29/02/2008

Livro: Memórias do assassino de Sissi

Duas pessoas tão diferentes, porém, sem saberem bastante parecidas. Algoz e vítima... o encontro no dia 10 de setembro de 1898 iria mudar para sempre o destino de ambos, que teriam o mesmo fim: a morte.

Memórias do assassino de Sissi é um livro de leitura fácil, do ponto de vista da linguagem não rebuscada, mas de difícil compreensão ao se analisar o caráter do assassino da imperatriz da Áustria, imortalizada no cinema através da apresentação de Romy Schneider.

A vida de Elisabeth da Baviera estava longe de ser um conto de fadas; casara-se com apenas 15 anos com um homem pelo qual nutria apenas respeito e admiração. Perdeu o filho - Rudolf - quando ele tinha 30 anos e cuja morte em um dos mistérios históricos. Admite-se que tenha se suicidado, porém há várias teorias, dentre elas a de que era contra o regime monarquista. Com a morte de Rudolf, ela tornou-se a dama de preto e nunca tirou o luto.

Já a vida de Luigi Lucheni estava mais perto de ser um pesadelo ou de não ser nem “vida”, se não fosse pelo coração que batia e pelas funções vitais que seu corpo exercia. A complexidade da obra está no próprio Lucheni que, à medida de que se mostra cruel, frio, calculista, transforma-se em uma pessoa letrada e obcecada por livros.

Talvez tenha matado Sissi para se sentir superior, tão importante e famoso quanto qualquer aristocrata, talvez tenha sido apenas a vontade de ter ser visto por alguém, mesmo de que uma maneira negativa, para comprovar para si mesmo que existia e que não era “ninguém”.

O livro tem dois autores: Santo Cappon, cujo pai era colecionador e, por um acaso, comprou os diários de Lucheni, e o próprio Luigi Lucheni que tem suas memórias publicadas. Tanto que a página que traz as indicações sobre autores e tradutor tem o seguinte conteúdo: “Memórias do assassino de Sissi, História de um menino abandonado no fim do século XIX contada por ele mesmo. precedidas e seguidas por a história do assassinato de Elisabeth (chamada Sissi), imperatriz da Áustria e rainha da Hungria, relatada por Santo Cappon”. Até no título do livro, percebe-se que Cappon quis enfatizar a história de Luigi, ele como escritor e conformou-se em ficar em um segundo plano.

Os relatos feitos por Lucheni são bastante interessantes e mostram uma realidade social esquecida. Em pleno século XIX, após grandes revoluções tão próximas como a Francesa, a Itália vivia um período de pobreza incalculável e um grande império ainda reinava com nobres e aristocratas.

Santo Cappon deixa claro não acreditar na versão de suicídio cometido por Luigi Lucheni na prisão. “Na opinião de todos, às 17h55 ou 18 horas, ele gritou forte. Era, precisamente, a hora da ronda que, com o conhecimento de causa julga inútil intervir naquele momento. Em caso de intervenção imediata, Lucheni poderia ter sido salvo. Lucheni teria escolhido, precisamente, a hora da ronda para seu ‘simulacro de suicidio’. Como ele poderia saber a hora sem relógio, na escuridão total e longe de qualquer barulho exterior? Somos tentados a encontrar uma explicação ‘sob medida’ própria para justificar a coincidência do suicídio e da passagem da ronda, assim como a respectiva não-intervenção...”

Cappon afirma que a morte de Luccheni foi, para alguns, providencial. E ainda dia “que se acredite na tese ou não de suicídio, que se declare o óbito com certeza... Luigi Lucheni morreu por ter visto desaparecer a única dignidade que lhe restava: sua memória”. É como se Santo Cappon sentisse a obrigação de continuar algo que fora começado por Lucheni, o qual não tinha voz e sonhava em ter suas memórias lidas pelo mundo para mostrar as injustiças cometidas não só contra ele, mas contra todas as crianças que viviam como escravas e objetos na Itália do início de século XIX. Além disso, ele nutria um desejo de ter sua vida lida pela mãe, a qual o havia abandonado desde o nascimento, e, que morava em San Francisco, nos Estados Unidos, na época do crime.

O processo de Lucheni, os estudos de teóricos da criminologia como César Lombroso são contados com detalhes. O livro traz fotografias de Sissi, do assassino, assim como dos documentos relativos ao caso. Não se trata de um livro defasado, porém atual que chega até a fazer referência a um musical alemão de Michael Kunze e Sylvester Levay sobre a vida de Sissi e único lugar onde Lucheni recebera um papel de significativa importância. A obra ainda mostra como Sissi e seu assassino eram tão próximos: incompreendidos, com infâncias podadas, ávidos por cultura, sem uma formação religiosa e tendo a escrita como única maneira de expressar os sentimentos.

É um livro que mostra o outro lado da moeda: o do assassino, assim como que fome não é apenas aquela de pão, todavia a de cultura, de conhecimento de leitora. Fome essa que pode trazer mais conseqüências e mais descontentamento do que a fome propriamente dita.

Editora: Novo Conceito
ISBN: 9788599560112
Número de páginas: 200

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